Divergente 1- divergente
Sinopse:
Na Chicago distópica de Beatrice Prior, a sociedade está dividida em cinco fações, cada uma delas destinada a cultivar uma virtude específica: Sinceridade (a sinceridade), Abnegação (o altruísmo), Destemor (a coragem), Amizade (a amizade) e Erudição (a inteligência). Numa cerimónia anual, todos os jovens de 16 anos devem decidir a fação a que irão pertencer para o resto das suas vidas. Para Beatrice, a escolha é entre ficar com a sua família... e ser quem realmente é. A sua decisão irá surpreender todos, inclusive a própria jovem.
Durante o competitivo processo de iniciação que se segue, Beatrice decide mudar o nome para Tris e procura descobrir quem são os seus verdadeiros amigos, ao mesmo tempo que se enamora por um rapaz misterioso, que umas vezes a fascina e outras a enfurece. No entanto, Tris também tem um segredo, que nunca contou a ninguém porque poderia colocar a sua vida em perigo. Quando descobre um conflito que ameaça devastar a aparentemente perfeita sociedade em que vive, percebe que o seu segredo pode ser a chave para salvar aqueles que ama... ou acabar por destruí-la.
Opinião:Bem para começar eu tenho que dizer que este livro é simplesmente maravilhoso. A autora fez um excelente trabalho ao escrever este livro pois ele é cheio de aventura, romance e uma das melhores coisas é que o livro meio que tem um fim, ou seja, a autora não faz como muitas autoras que deixam o final em aberto e nós não sabemos o que aconteceu ás personagens principais ou larga uma "bomba" no fim do livro, assim é muito melhor porque não ficamos desapontados com o final do livro e ainda ficamos ansiosos pelo proximo.
As personagens criadas são muito interessantes, apaixonantes e têm uma forte personalidade principalmente a nossa personagem principal Beatrice.
Neste livro, o que sobressai é a criatividade da autora uma vez que temos um mundo distópico e personagens principais (Beatrice/Tris e Quatro/Tobias) são muito versateis e corajosas. Tris é uma rapariga muito corajosa que põe a sua vida em risco para salvar os seus amigos e é também divergente o que faz com que ela possa resistir e que não seja controlada pelas simulações criadas pela Eudição.
Outra coisa que gostei bastante foi da trama e do enredo pois é cheia de ação e aventura com bastantes intrigas e mistérios principalmente por causa da Erudição e todos os problemas que esta facção vai dar (vai criar uma guerra entre as várias facções e vai tentar matar todos os divergentes) e a autora também adicionou um pouco de romance entre Tris e Tobias.
Ah, neste livro ainda vamos voltar a ver os pais de Tris, sendo que quando a guerra começar no final do livro eles vão se sacrificar pela filha e esta vai salvar Tobias do controlo da simulação e obviamente de Jeanine, a lider da Erudição.
Concluindo, aconselho cada um de vocês a lerem este livro pois é muito interessante e o que parece por vezes não corresponde á realidade e descobrimos coisas á cerca de pessoas que nunca imaginamos.
Boa leitura!!!
Na Chicago distópica de Beatrice Prior, a sociedade está dividida em cinco fações, cada uma delas destinada a cultivar uma virtude específica: Sinceridade (a sinceridade), Abnegação (o altruísmo), Destemor (a coragem), Amizade (a amizade) e Erudição (a inteligência). Numa cerimónia anual, todos os jovens de 16 anos devem decidir a fação a que irão pertencer para o resto das suas vidas. Para Beatrice, a escolha é entre ficar com a sua família... e ser quem realmente é. A sua decisão irá surpreender todos, inclusive a própria jovem.
Durante o competitivo processo de iniciação que se segue, Beatrice decide mudar o nome para Tris e procura descobrir quem são os seus verdadeiros amigos, ao mesmo tempo que se enamora por um rapaz misterioso, que umas vezes a fascina e outras a enfurece. No entanto, Tris também tem um segredo, que nunca contou a ninguém porque poderia colocar a sua vida em perigo. Quando descobre um conflito que ameaça devastar a aparentemente perfeita sociedade em que vive, percebe que o seu segredo pode ser a chave para salvar aqueles que ama... ou acabar por destruí-la.
Opinião:Bem para começar eu tenho que dizer que este livro é simplesmente maravilhoso. A autora fez um excelente trabalho ao escrever este livro pois ele é cheio de aventura, romance e uma das melhores coisas é que o livro meio que tem um fim, ou seja, a autora não faz como muitas autoras que deixam o final em aberto e nós não sabemos o que aconteceu ás personagens principais ou larga uma "bomba" no fim do livro, assim é muito melhor porque não ficamos desapontados com o final do livro e ainda ficamos ansiosos pelo proximo.
As personagens criadas são muito interessantes, apaixonantes e têm uma forte personalidade principalmente a nossa personagem principal Beatrice.
Neste livro, o que sobressai é a criatividade da autora uma vez que temos um mundo distópico e personagens principais (Beatrice/Tris e Quatro/Tobias) são muito versateis e corajosas. Tris é uma rapariga muito corajosa que põe a sua vida em risco para salvar os seus amigos e é também divergente o que faz com que ela possa resistir e que não seja controlada pelas simulações criadas pela Eudição.
Outra coisa que gostei bastante foi da trama e do enredo pois é cheia de ação e aventura com bastantes intrigas e mistérios principalmente por causa da Erudição e todos os problemas que esta facção vai dar (vai criar uma guerra entre as várias facções e vai tentar matar todos os divergentes) e a autora também adicionou um pouco de romance entre Tris e Tobias.
Ah, neste livro ainda vamos voltar a ver os pais de Tris, sendo que quando a guerra começar no final do livro eles vão se sacrificar pela filha e esta vai salvar Tobias do controlo da simulação e obviamente de Jeanine, a lider da Erudição.
Concluindo, aconselho cada um de vocês a lerem este livro pois é muito interessante e o que parece por vezes não corresponde á realidade e descobrimos coisas á cerca de pessoas que nunca imaginamos.
Boa leitura!!!
Cenas preferidas
“Você vai querer marchar até o café da manhã amanhã e mostrar aos seus atacantes que eles não têm efeito sobre você,” ele adiciona, “mas você deve deixar esse hematoma na sua bochecha a mostra, e manter a cabeça baixa.”
A ideia me causa náuseas.
“Eu não acho que consigo fazer isso,” eu digo oca. Eu levanto meus olhos para os
dele.
“Você precisa.”
“Eu acho que você não entendeu.” O calor toma meu rosto. “Eles me tocaram.”
Todo o corpo dele se contrai com minhas palavras, sua mão apertando a bolsa de gelo. “Tocaram você,” ele repete, os olhos escuros frios.
“Não... do jeito que você está pensando.” Eu limpo minha garganta. Eu não prestei atenção quando disse aquilo, como seria estranho falar sobre isso. “Mas... quase.”
Eu desviei meu olhar.
Ele ficou em silêncio e esperou tanto que, eventualmente, eu tinha algo a dizer.
“O que é?”
“Eu não quero dizer isso,” ele diz, “mas eu sinto que preciso. É mais importante que você esteja salva do que certa, para o tempo que virá. Entende?”
Suas sobrancelhas retas traçadas sobre dos olhos. Meu estômago se contorce, em parte porque eu sei que ele estava certo, mas eu não quero admitir isso, e em parte porque eu quero algo que não sei expressar; eu quero apertar o espaço entre nós até que ele desapareça.
Eu concordo.
“Mas, por favor, quando você vir a oportunidade...” ele aperta sua mão na minha bochecha, fria e forte, e inclina minha cabeça para cima, me fazendo olhar para ele. Seus olhos brilham. Eles parecem quase predatórios. “Destrua-os.”
Eu rio trêmula. “Você é um pouco assustador, Quatro.”
“Faça-me um favor,” ele diz, “e não me chame assim.”
“E como eu deveria te chamar então?”
“Nada.” Ele tira a mão do meu rosto. “Ainda.”
“Eu não entendo,” digo. “Por que eles se importam com o que eu penso, mesmo quando eu ajo como eles esperam de mim?”
“Você está agindo como eles querem agora,” ele diz. “Mas o que acontece quando seu lado da Abnegação mandar que você faça alguma outra coisa, algo que eles não querem que você faça?”
Eu não tenho uma resposta para isso, e eu nem mesmo sei se ele está certo sobre mim. Eu estou ligada à Abnegação ou ao Destemor?
Talvez a resposta não seja nem um nem outro. Talvez eu seja Divergente.
“Talvez eu não precise que você me ajude. Já pensou sobre isso?” eu digo. “Eu não sou fraca, você sabe. Eu posso fazer isso sozinha.”
Ele balança a cabeça. “Você pensa que meu primeiro instinto é proteger você. Porque você é pequena, ou uma garota, ou uma Careta. Mas você está errada.”
Ele aproxima seu rosto do meu e segura meu queixo com seus dedos. Suas mãos cheiram a metal. Quando foi a última vez que ele segurou uma arma ou uma faca? Minha pele pinica no lugar onde ele segura, como se ele estivesse transmitindo eletricidade através de sua pele.
“Meu primeiro instinto é empurrá-la até que você quebre, só para ver quão forte eu tenho que pressionar,” ele diz, seus dedos apertando com a palavra quebrar. Meu corpo fica tenso ao som de sua voz, me sinto tão pressionada como uma mola contraída, e esqueço de respirar.
Seus olhos negros prendem os meus. “Mas eu resisto.”
“Por que...” Eu engulo em seco. “Por que esse é seu primeiro instinto?”
“Medo não te derruba; ele faz você levantar. Eu já vi isso. É fascinante.” Ele me solta, mas não me afasta, sua mão afagando minha mandíbula, meu pescoço. “Algumas vezes eu só... só quero ver isso de novo. Eu quero ver você despertar.”
Eu coloco minhas mãos em sua cintura. Não consigo lembrar quando decidi fazer isso. Mas também não posso afastá-las. Me pressiono contra seu peito, prendendo meus braços ao redor dele. Meus dedos deslizando pelos músculos das costas dele.
Depois de um momento ele toca minhas costas, me pressionando contra ele, e desliza sua outra mão por meu cabelo. Sinto-me pequena novamente, mas dessa vez não me assusta. Mantenho meus olhos fechados. Ele não me assusta mais.
“Você tem prestado atenção, não tem?”
“Eu gosto de observar as pessoas.”
“Talvez você tenha sido descartado da Sinceridade, Quatro, porque você é um péssimo mentiroso.”
Ele põe a mão sobre a pedra ao lado dele, os dedos alinhados com o meu. Eu olho para baixo para nossas mãos. Ele tem dedos longos e estreitos. Mãos finas, feitas para movimentos ágeis. Não mãos de Destemor, que devem ser grossas e resistentes, prontas para quebrar as coisas.
“Ótimo.” Ele inclina o rosto mais próximo ao meu, seus olhos focando no meu queixo, lábios e nariz. “Eu te observei, porque eu gosto de você.” Ele diz claramente, abertamente, e com os olhos focados nos meus. “E não me chame de Quatro, ok? É bom ouvir o meu nome novamente.”
Simples assim, ele finalmente se declarou, e não sei como responder. Minhas bochechas se aquecem e tudo o que eu consigo dizer é: “Mas você é mais velho que eu... Tobias.”
Ele sorri para mim. “Sim, essa gritante lacuna de dois anos é realmente insuperável,
não?”
“Eu não estou tentando ser autodepreciativa,” eu digo, “eu simplesmente não entendo. Eu sou mais jovem. Eu não sou bonita. Eu...”
Ele ri, um riso profundo que parece que veio de dentro dele, e toca seus lábios na minha têmpora.
“Não finja,” digo, com a respiração pesada. “Você sabe que eu não sou. Eu não sou feia, mas certamente não sou bonita.”
“Certo. Você não é bonita. E então?” Ele beija minha bochecha. “Eu gosto de como você é. Você é mortalmente inteligente. Você é valente. E mesmo você descobrindo sobre Marcus...” Sua voz amacia. “Você não está me dando aquele olhar. Como se eu fosse um filhote de cachorro chutado ou algo assim.”
“Bem,” digo. “Você não é.”
Por um segundo seus olhos escuros estão no meu, e ele está tranquilo. Em seguida, ele toca o meu rosto e se inclina, roçando meus lábios com os dele. O rio ruge e sinto seu toque nos meus tornozelos. Ele sorri e aperta sua boca à minha.
Eu fico tensa no início, insegura de mim mesma, então quando ele se afasta, eu tenho certeza que fiz algo errado, ou mal. Mas ele toma meu rosto entre as mãos, os dedos fortes contra a minha pele, e me beija de novo, desta vez mais firme, mais certo. Eu enrolo um braço em volta dele, deslizando minha mão até seu pescoço e em seu cabelo curto.
Por alguns minutos nós nos beijamos, no fundo do abismo, com o rugido da água ao redor de nós. E quando subimos, de mãos dadas, eu percebo que, se tivéssemos escolhido diferente, poderíamos ter feito a mesma coisa, em um lugar mais seguro, com roupas cinza em vez de pretas.
“Quanto ao motivo de sua presença aqui... Uma qualidade da minha facção é a curiosidade,” ela diz. “E enquanto analisava seus registros, eu vi que ocorreu mais um erro com outra simulação sua. De novo, não foi possível gravá-la. Você sabia disso?”
“Como você acessou meus registros? Apenas o Destemor tem acesso a eles.”
“Porque Erudição é quem desenvolve as simulações, nós temos... um acordo com o Destemor, Beatrice.” Ela inclina a cabeça e sorri para mim. “Eu estou, simplesmente, preocupada com a qualidade de nossa tecnologia. Se falhou quando você estava utilizando, eu preciso garantir que não falhará mais, você entende?”
Eu entendo só uma coisa: ela está mentindo para mim. Ela não liga para tecnologia—ela suspeita que tem alguma coisa errada com os resultados do meu teste. Da mesma forma que os líderes do Destemor, ela está fuçando em busca de um Divergente. E se minha mãe quer que Caleb pesquise a respeito do soro dos testes, é provavelmente porque Jeanine o desenvolveu.
Mas o que é tão ameaçador na minha habilidade de manipular as simulações? Por que isso importaria para a representante da Erudição, de todas as pessoas, por que ela?
Não posso responder nenhuma dessas questões. Mas o olhar que ela me dá lembra- me do olhar do cão no teste de aptidão—um olhar perverso, predatório. Ela quer me cortar em pedaços. Mas não posso deitar em submissão dessa vez. Tenho que me tornar um cão de ataque também.
Talvez se você fosse capaz de controlar seu temperamento” Jeanine diz, suas palavras cortando Tobias. “Você não estaria nessa situação, Tobias.”
“Eu estou nessa situação porque você me colocou nela,” ele atira. “No segundo em que você orquestrou um ataque contra pessoas inocentes.”
“Pessoas inocentes,” Jeanine ri. “Eu acho isso um pouco engraçado, vindo de você. Eu esperaria que o filho de Marcus entendesse que nem todas as pessoas são inocentes.” Ela se empoleira na borda da mesa, sua saia subindo e revelando seus joelhos, que eram marcados por cicatrizes. “Você pode me dizer honestamente que você não ficaria feliz em saber que seu pai foi morto no ataque?”
“Não,” Tobias diz entre dentes. “Mas a menos a maldade dele não envolvia manipular toda uma facção e sistematicamente matar cada líder político que nós temos.”
Eles se encaram por alguns segundos, tempo o bastante para me deixar tensa, e então Jeanine limpa sua garganta.
“O que eu estava dizendo...” ela diz. “É que em breve, será incumbida a mim a tarefa de manter sob controle dúzias de adultos e crianças da Abnegação, e não é bom para mim que grande parte deles possa ser Divergentes como vocês, incapazes de serem controlados pela simulação.”
Ela fica de pé e caminha alguns passos para esquerda, suas mãos cruzadas em frente a ela. Suas unhas, como as minhas, roídas.
“Portanto, é preciso desenvolver uma nova forma de simulação a qual eles não sejam imunes. Tenho sido forçada a reavaliar minhas próprias suposições. E é aqui que vocês entram” Ela dá alguns passos para a direita. “Você está certo em dizer que vocês têm muita força de vontade. Eu não posso controlar suas vontades. Mas existem algumas coisas que eu posso controlar.”
Ela para e olha para nós. Apoio minha cabeça no ombro de Tobias. Sangue escorre pelas minhas costas. A dor tem sido tão constante nos últimos minutos que me acostumei a ela, como uma pessoa se acostumaria ao barulho de uma sirene se ele fosse persistente.
Ela pressiona as palmas das mãos juntas. Não vejo nenhuma satisfação viciosa em seus olhos, e nem uma pitada do sadismo que eu esperava. Ela é mais uma máquina do que maníaca. Ela vê problemas e formula soluções baseado nos dados que ela coletou. Abnegação ficou no caminho do seu desejo por poder, então ela achou uma forma de eliminá-los. Ela não tinha um exército, logo achou um no Destemor. Ela sabia que precisaria controlar grandes grupos de pessoas a fim de permanecer segura, então ela desenvolveu um meio de fazer isso com o soro e os transmissores.
Divergência é só mais um problema que ela precisa resolver, e é isso o que a faz tão aterrorizante—porque ela é esperta o bastante para resolver qualquer coisa, mesmo o problema da nossa existência.
“Eu posso controlar o que você vê e ouve,” ela diz. “Então criei um novo soro que vai ajustar o seu entorno para manipular sua vontade. Aqueles que se recusam a aceitar nossa liderança devem ser monitorados de perto.”
Monitorado ou ter seu livre arbítrio roubado. Ela tem um dom para palavras.
“Você vai ser a primeira cobaia, Tobias. Beatrice, entretanto...” ela sorri. “Você está muito ferida para ser útil para mim, sua execução vai acontecer assim que esta reunião for encerrada.”
Tento controlar o arrepio que passa por mim com a palavra execução, meu ombro gritando de dor, e olho para Tobias. É difícil afastar as lágrimas quando vejo o terror nos olhos escuros dele.
“Não,” Tobias diz. Sua voz treme, mas seu olhar é firme enquanto ele balança a cabeça. “Eu prefiro morrer.”
“Temo que você não tenha muita escolha,” Jeanine responde tranquilamente.
Tobias segura bruscamente meu rosto entre suas mãos e me beija, a pressão de seus lábios separando os meus. Esqueço minha dor e o terror de uma morte eminente e por um momento, sou grata porque a memória desse beijo ficará fresca em minha mente enquanto encontro meu fim.
Então ele me solta e eu preciso me apoiar contra a parede em busca de suporte. Com nenhum outro aviso além do aperto dos seus músculos, Tobias cruza a sala e envolve suas mãos na garganta de Jeanine. Os soldados Destemor que guardavam a porta lançam- se em direção a ele, suas armas prontas, e eu grito.
São necessários dois soldados para afastar Tobias de Jeanine e empurrá-lo para o chão. Um dos soldados prende os ombros de Tobias com os joelhos enquanto suas mãos seguram a cabeça de Tobias, pressionando seu rosto contra o carpete. Invisto contra eles, mas outro guarda empurra meus ombros, me forçando contra a parede. Eu estou fraca devido à perda de sangue e sou muito pequena.
Jeanine se apoia contra a mesa, tossindo e ofegando. Ela massageia a garganta, que está vermelha brilhante com as marcas dos dedos de Tobias. Não importa quão mecânica ela pareça, ela ainda é humana; lágrimas cobrem seus olhos enquanto ela pega uma caixa da gaveta da mesa e a abre, revelando uma agulha e uma seringa.
Ainda respirando pesadamente, ela a carrega até Tobias. Tobias range os dentes e acerta um dos guardas no rosto com seu cotovelo. O guarda bate com o cabo de sua arma na lateral da cabeça de Tobias e Jeanine aplica a injeção em seu pescoço. Ele amolece.
Um som escapa da minha boca, não um soluço ou um grito, mas um coaxar, um gemido que soa desconexo, como se viesse de outra pessoa.
“Levantem-no,” Jeanine diz, sua voz áspera.
O guarda levanta, assim como Tobias. Ele não parece com os soldados sonâmbulos, seus olhos estão alertas. Ele olha ao redor por alguns segundos como se estivesse confuso com o que via.
“Tobias!” eu digo. “Tobias!”
“Ele não conhece você,” Jeanine diz.
Tobias olha por cima do ombro. Seus olhos cerrados e começa a vim em minha direção, rápido. Antes que os guardas possam pará-lo, ele fecha a mão ao redor da minha garganta, apertando-a com seus dedos. Eu engasgo, meu rosto quente com o sangue.
“A simulação o manipula,” Jeanine diz. Mal posso ouvi-la com meus ouvidos latejando. “Alterando o que ele vê, fazendo-o confundir inimigos com amigos.”
Um dos guardas afasta Tobias de mim. Eu arquejo, respirando penosamente e enchendo meus pulmões com ar.
Ele se foi. Controlado pela simulação, ele agora irá matar as pessoas que há três minutos chamava de inocentes. Se Jeanine o tivesse matado, doeria menos do que isso.
“A vantagem dessa versão da simulação,” ela diz, seus olhos ardendo. “É que ele pode agir independentemente, e é, portanto, muito mais eficiente do que um soldado estúpido.” Ela olha para os guardas que seguram Tobias. Ele luta contra eles, seus músculos tensos, seus olhos focados em mim, mas sem me ver, não da forma como ele costumava me ver. “Mande-o para a sala de controle. Nós queremos alguém sensível para monitorar as coisas e, se não me engano, ele costumava trabalhar lá.”
“Fiz o que você disse—o que a mamãe disse. Eu pesquisei o soro da simulação e encontrei que Jeanine estava trabalhando para desenvolver transmissores de longo alcance para o soro de modo que seu sinal pudesse durar mais, o que me levou a informações sobre Erudição e Destemor... De qualquer maneira, eu saí da iniciação quando descobri o que estava acontecendo. Eu teria te avisado, mas já era tarde demais,” diz ele. “Eu estou sem facção agora.”
“Não, você não está,” meu pai diz com firmeza. “Você está com a gente.”
Eu me ajoelho na esteira e Caleb corta um pedaço da minha camisa do meu ombro com um par de tesouras médicas. Caleb descasca o quadrado de tecido, revelando primeiro a tatuagem da Abnegação no meu ombro direito e, segundo, os três pássaros na minha clavícula. Caleb e meu pai olham para ambas as tatuagens com o mesmo olhar de fascínio e choque, mas não dizem nada sobre elas.
Deito de bruços. Caleb aperta minha mão enquanto meu pai pega o antisséptico do kit de primeiros socorros.
“Você já tirou uma bala de alguém antes?” pergunto, uma risada trêmula na minha
voz.
“As coisas que eu sei fazer podem surpreendê-la,” ele responde.
“Como você está acordado?” exijo.
Ele levanta a cabeça e eu puxo o gatilho, levantando uma sobrancelha para ele.
“Os líderes do Destemor... eles avaliaram meus registros e me removeram da simulação,” ele diz.
Divergent 1 – Divergent Veronica Roth
Traduzido por Grupo Shadows Secrets 276
“Porque descobriram que você já tinha tendências homicidas e não se importaria em matar algumas centenas de pessoas conscientemente,” digo. “Faz sentido.”
“Eu não sou... homicida!”
“Nunca conheci alguém da Sinceridade que fosse tão mentiroso!” Pressiono a arma contra seu crânio. “Onde estão os computadores que controlam a simulação Peter?”
“Você não vai atirar em mim.”
“As pessoas têm uma tendência a superestimar meu caráter,” digo calmamente. “Eles pensam que porque sou pequena ou uma garota, ou uma Careta, eu sou incapaz de ser cruel. Mas eles estão errados.”
Movo a arma três polegadas para a direita e atiro no braço de Peter.
Seu grito preenche o corredor. Sangue escorre da ferida e ele grita novamente, pressionando a testa contra o chão. Movo a arma de volta para a cabeça dele, ignorando a culpa angustiante em meu peito.
“Agora que você se deu conta do seu erro,” digo, “vou dar a você outra chance de me dizer o que eu preciso saber antes que eu atire em algum lugar pior.”
Outra coisa com a qual posso contar: Peter não é altruísta.
Ele vira a cabeça e focaliza um olho brilhante em mim. Ele morde seu lábio inferior e sua respiração é irregular enquanto ele inspira e expira.
“Eles estão ouvindo,” ele cospe. “Se você não me matar, eles irão. A única maneira de me fazer falar é se você me tirar daqui.”
“O quê?”
“Me leve... ahh... com você” ele diz, estremecendo.
“Você quer que eu leve você...” eu digo. “A pessoa que tentou me matar... comigo?”
“Quero,” ele geme. “Se você pretende descobrir o que você precisa.”
Parece que eu tenho uma escolha, mas não. Cada minuto que eu perco encarando Peter, pensando em como ele assombrou meus sonhos e em todo o mal que ele me causou, outra dúzia de membros da Abnegação morre pelas mãos de soldados do exército Destemor.
“Certo,” eu digo, quase engasgando com as palavras. “Certo.”
Escuto passos atrás de mim. Mantendo a arma firme eu olho sobre meu ombro. Meu pai e os outros estavam vindo em nossa direção.
Meu pai tira sua camisa de mangas longas. Ele usa uma camiseta cinza por baixo dela. Ele se abaixa próximo a Peter e enrola o tecido sobre seu braço amarrando-o bem. Enquanto ele pressionava o tecido sobre a hemorragia no braço de Peter, ele olhou para mim e disse: “Era mesmo necessário atirar nele?”
Eu não respondo.
“Algumas vezes a dor é para um bem maior,” Marcus diz calmamente.
Na minha cabeça, eu o vejo parado em frente a Tobias com o cinto em sua mão e escuto o eco de sua voz. É para o seu próprio bem. Olho para ele por alguns segundos. Ele realmente acreditava nisso? Parece com algo que um membro da Destemor diria.
“Vamos,” digo. “Levante, Peter.”
“Você quer que ele ande?” Caleb exige. “Você está louca?”
“Eu atirei na perna dele?” digo. “Não. Ele anda. Para onde vamos, Peter?”
Caleb ajuda Peter a ficar em pé.
“O prédio de vidro,” ele diz, estremecendo. “Oitavo andar.”
Ele lidera o caminho através da porta.
A cabeça de Tobias vira e seus olhos escuros viajam por mim. Suas sobrancelhas franzidas. Ele fica de pé parecendo confuso. Ele aponta sua arma para mim.
“Largue a arma,” ele diz.
“Tobias,” digo, “você está em uma simulação.”
“Largue a arma,” ele repete. “Ou eu atiro.”
Jeanine disse que ele não me conhecia. Jeanine também disse que a simulação fez com que Tobias visse seus amigos como inimigos. Ele vai atirar em mim se for preciso.
Coloco minha arma no chão próximo aos meus pés.
“Largue a arma!” Tobias grita.
“Eu larguei,” digo. Uma pequena voz na minha cabeça diz que ele não consegue me ouvir, não consegue me ver, que ele não me conhece. Línguas de fogo pressionam a parte de trás dos meus olhos. Não posso simplesmente ficar parada aqui e deixá-lo atirar em mim.
Corro até ele, segurando seu pulso. Sinto seus músculos ficarem tensos quando ele puxa o gatilho e desvio minha cabeça bem a tempo. A bala atinge a parede atrás de mim. Tossindo eu chuto suas costelas e torço seu pulso para o lado o mais forte que consigo. Ele larga a arma.
Não sou capaz de vencer Tobias numa luta. Eu já sabia disso. Mas eu preciso destruir o computador. Mergulho em direção à arma, mas antes que eu a alcance, ele me agarra e me empurra para o lado.
Encaro seus olhos escuros, olhos em conflito por um instante antes de me dar um soco na mandíbula. Minha cabeça é lançada para o lado e me encolho para longe dele, levantando minhas mãos para proteger meu rosto. Não posso cair, não posso cair ou ele vai me chutar, e isso seria pior, isso seria muito pior. Chuto a arma para longe com meu calcanhar, assim ele não vai conseguir alcançá-la, ignorando o latejo na minha mandíbula, chuto seu estômago.
Ele segura meu pé e me empurra para baixo então eu caio sobre meu ombro. A dor faz meus olhos escurecerem. Eu o encaro. Ele puxa o pé para trás como se estivesse prestes a me chutar e eu rolo sobre meus joelhos, esticando meu braço em busca da arma. Não sei o que eu vou fazer com ele. Não posso atirar nele. Não posso atirar nele, não posso. Ele está lá em algum lugar.
Ele me agarra pelo cabelo e me puxa para o lado. Eu revido e agarro seu pulso, mas ele é muito forte e minha testa acerta a parede.
Ele está lá em algum lugar.
“Tobias,” eu digo.
Será que seu aperto vacilou? Giro e chuto de volta, meu calcanhar atingindo sua perna. Quando meu cabelo escorrega de suas mãos, eu mergulho em direção a arma e meus dedos se fecham ao redor do metal frio. Me viro sobre minhas costas com a arma apontada para ele.
“Tobias,” eu digo. “Eu sei que você está aí em algum lugar.”
Mas se ele estivesse, ele provavelmente não estaria vindo em minha direção como se estivesse prestes a me matar.
Minha cabeça lateja. Eu fico de pé.
“Tobias, por favor...” eu começo. Eu sou patética. Lágrimas deixam meu rosto quente. “Por favor. Me veja.” Ele anda em minha direção, seus movimentos perigosos, rápidos, poderosos. A arma treme em minha mão. “Por favor, me veja, Tobias, por favor!”
Mesmo quando ele franze a testa, seus olhos parecem pensativos e eu lembro como sua boca se curva quando ele sorri.
Não posso matá-lo. Não tenho certeza se eu o amo, não tenho certeza se é por isso. Mas eu tenho certeza do que ele faria se estivesse no meu lugar. Eu tenho certeza de que nada compensava matá-lo.
Eu já fiz isso antes—na minha paisagem do medo, com uma arma na mão, uma voz gritando para que eu atirasse nas pessoas que eu amava. Eu morri por eles voluntariamente, naquela vez, mas eu não conseguia imaginar como isso me ajudaria agora. Mas eu simplesmente sei, eu sei qual é a coisa certa a ser feita.
Meu pai diz—costumava dizer—que existe poder no autossacrifício.
Giro a arma na minha mão e a pressiono nas mãos de Tobias.
Ele empurra o cano da arma na minha testa. Minhas lágrimas pararam e o ar parece frio quando toca minhas bochechas. Eu me estico e descanso minhas mãos em seu peito desta forma eu posso sentir seu coração batendo. Ao menos as batidas de seu coração ainda são dele.
Ele puxa o gatilho. Talvez seja mais fácil deixar que ele atire em mim como se estivéssemos na paisagem do medo, como se isso fosse um sonho. Talvez seja só um estrondo e as luzes irão sumir, e eu estaria em outro mundo. Fico parada e espero.
Será que eu serei perdoada por tudo que eu fiz para chegar até aqui?
Eu não sei. Eu não sei.
Por favor.
O tiro não vem. Ele me encara com a mesma ferocidade, mas não se move. Por que ele não atirou em mim? Seu coração bate contra minha mão, e meu próprio coração acelera. Ele é Divergente. Ele pode lutar contra essa simulação. Qualquer simulação.
“Tobias,” eu digo. “Sou eu.”
Dou um passo para frente e envolvo meus braços ao redor dele. Seu corpo está tenso. As batidas do seu coração mais rápidas. Posso senti-las contra minha bochecha. Um ruído surdo contra meu rosto. O mesmo som de quando a arma atinge o chão. Ele agarra meus ombros—com muita força, seus dedos se afundando na minha pele onde a bala estava. Choro enquanto ele me empurra para trás. Talvez ele queira me matar de algum jeito cruel.
“Tris,” ele diz, e é ele novamente. Sua boca se choca contra a minha.
Seus braços me envolvem enquanto ele me levanta do chão, me segurando contra ele, suas mãos agarrando minhas costas. Seu rosto e nuca estão molhados de suor, seu corpo tremendo e meu ombro queimando com a dor, mas eu não me importo, não me importo, não me importo.
Ele me coloca de volta no chão e me encara, seus dedos deslizando pela minha testa, minhas sobrancelhas, bochechas e lábios.
Alguma coisa parecida com um soluço, um suspiro ou um gemido escapa dele, e ele me beija novamente. Seus olhos brilhando com as lágrimas. Nunca pensei que veria Tobias chorar. Isso me machuca.
Afundo meu rosto contra seu peito e choro. Minha dor de cabeça volta, e a dor no meu ombro, e sinto como se meu corpo pesasse o dobro. Inclino-me contra ele em busca de suporte.
“Como você conseguiu?” pergunto.
“Eu não sei,” ele responde. “Eu simplesmente ouvi sua voz.”
Depois de alguns segundos, eu lembro onde estou. Afasto-me de Tobias, enxugo as lágrimas com uma das mãos e me viro de volta para as telas. Vejo uma que mostra toda a área dos bebedouros. Tobias estava tão paranoico quando eu reclamava sobre os membros
do Destemor lá. Ele olhava incessantemente para a parede acima do bebedor. Agora eu sei por quê.
Tobias e eu ficamos parados lá por algum tempo, e eu acho que consigo adivinhar o que ele estava pensando, porque eu me perguntava a mesma coisa; Como uma coisa tão pequena é capaz de controlar tanta gente?
“Eu estava controlando a simulação?”
“Eu não sei se você estava controlando ou monitorando,” digo. “Já está concluída. Não tenho ideia de como, mas Jeanine a projetou, então pode estar funcionando por conta própria.”
Ele balança a cabeça. “É... incrível. Terrível, maldoso... mas incrível.”
Um movimento em uma das telas chama minha atenção e eu vejo meu irmão, Marcus e Peter ainda no primeiro andar do prédio. Eles estão cercados por soldados Destemor, todos de preto, carregando armas.
“Tobias,” eu digo secamente. “Agora!”
Ele corre para as telas do computador e as pressiona por algum tempo. Não consigo olhar o que ele está fazendo. Tudo que vejo é meu irmão. Ele segura a arma que eu dei para ele como se estivesse pronto para usá-la. Mordo meu lábio. Não atire. Tobias pressiona a tela mais algumas vezes, digitando códigos que não fazem o menor sentido para mim. Não atire.
Vejo um lampejo—uma faísca de uma das armas—e engasgo. Meu irmão, Marcus e Peter agachados no chão protegendo suas cabeças com os braços. Depois de alguns minutos todos eles se levantam, então eu sei que eles ainda estão vivos, e os soldados do Destemor avançam. Um cardume negro ao redor do meu irmão.
“Tobias!” eu grito.
Ele pressiona a tela de novo, e todos no primeiro andar param.
Seus braços abaixam.
E então os membros do Destemor se movem. Suas cabeças virando para um lado e para o outro, eles soltam as armas e abrem a boca como se fossem gritar, esbarrando uns nos outros, afundando no chão, segurando suas cabeças e se balançando para frente e para trás, para frente e para trás.
O aperto no meu peito some, me sento suspirando.
Tobias se abaixa perto do computador, abrindo o gabinete.
“Preciso pegar o disco rígido com os dados,” ele diz. “Ou eles podem simplesmente iniciar a simulação de novo.”
Observo o frenesi nas telas. Deve ser a mesma coisa que está acontecendo nas ruas. Analiso as telas, uma a uma, procurando a que mostra o setor da Abnegação na cidade. Apenas uma—no final da sala, embaixo. Os membros do Destemor na tela estão atirando uns contra os outros, empurrando um ao outro, gritando—caos. Homens e mulheres vestidos de preto caindo no chão. Pessoas correndo em todas as direções.
“Consegui,” Tobias diz, segurando o disco rígido do computador. É um pedaço de metal quase do tamanho da sua mão. Ele me entrega e eu o coloco no bolso de trás da calça.
“Precisamos sair daqui,” digo enquanto me levanto. Aponto para a tela da direita.
“Sim, nós precisamos.” Ele envolve os braços ao redor dos meus ombros. “Vamos.”
Caminhamos juntos pelo corredor que nos levaria de volta. Os elevadores me lembram do meu pai. Não consigo me impedir de procurar por seu corpo.
Eu o vejo no chão próximo ao elevador, cercado pelos corpos de vários guardas. Um grito estrangulado me escapa. Desvio o olhar. Um gosto de bile subindo pela minha garganta e eu vomito contra a parede.
Por um segundo é como se tudo dentro de mim estivesse se quebrando, e eu me abaixo perto de um dos corpos respirando pela boca para não sentir o cheiro de sangue. Cubro minha boca com a mão para impedir um soluço. Mais cinco segundos. Cinco segundos de fraqueza e eu levanto. Um, dois, três, quatro.
Cinco.
Não tenho muita noção das coisas ao meu redor. Há um elevador e uma sala de vidro e uma corrente de ar frio. Há também uma multidão de soldados Destemor vestidos de preto gritando. Procuro por Caleb, mas ele não está em lugar algum, até que deixamos o prédio de vidro e saímos em direção à luz do dia.
Caleb corre até mim quando eu atravesso as portas e me deixo cair contra ele. Ele me segura com força.
“Papai?” ele diz.
Eu apenas balanço a cabeça.
“Bom,” ele diz, quase engasgando com as palavras. “Ele gostaria que tivesse sido assim.”
Por cima do ombro de Caleb eu vejo Tobias parando. Todo seu corpo enrijece quando ele vê Marcus. Na agonia de destruir a simulação, me esqueci de avisá-lo.
Marcus caminha até Tobias e envolve seus braços ao redor do filho. Tobias permanece congelado, seus braços duros e o rosto em branco. Observo seu pomo de Adão subir e descer enquanto ele olhava para o teto.
“Filho,” Marcus suspira.
Tobias estremece.
“Ei,” eu digo, me afastando de Caleb. Lembro-me do ardor provocado pelo cinto no meu pulso durante a paisagem do medo de Tobias e deslizo para o espaço entre eles, empurrando Marcus para trás. “Ei. Fique longe dele.”
Sinto a respiração de Tobias contra meu pescoço, elas veem em rajadas afiadas.
“Fique longe,” sibilo.
“Beatrice, o que você está fazendo?” Caleb pergunta.
“Tris,” Tobias diz.
Marcus me olha de uma forma escandalizada que parece falsa para mim—seus olhos estão muito arregalados e sua boca muito aberta. Se eu fosse capaz de encontrar um meio para tirar esse olhar do seu rosto, eu faria.
“Nem todos aqueles artigos da Erudição eram cheios de mentiras,” eu digo, cerrando meus olhos para Marcus.
“Do que você está falando?” Marcus diz calmamente. “Eu não sei o que lhe contaram, Beatrice, mas...”
“A única razão pela qual eu não atirei em você ainda é porque ele é quem deveria fazer isso,” digo. “Fique longe dele ou não vou me importar em fazê-lo.”
A mão de Tobias desliza pelo meu braço e me aperta. Os olhos de Marcus se prendem aos meus por alguns segundos e eu não consigo evitar imaginá-los como abismos negros, tal qual eram na paisagem do medo de Tobias. E então ele desvia o olhar.
“Precisamos ir,” Tobias diz vacilante. “O trem chegará a qualquer instante.”
Andamos pelo chão duro até os trilhos do trem. O maxilar de Tobias estava tenso e ele olhava diretamente para frente. Sinto uma pontada de arrependimento. Talvez eu devesse ter deixado que ele lidasse com o pai dele sozinho.
“Me desculpe,” murmuro.
“Você não tem por que se desculpar,” ele responde, segurando minha mão. Seus dedos ainda tremem.
“Se nós pegarmos o trem que vai para a direção contrária, para longe da cidade ao invés de para dentro dela, podemos chegar à sede da Amizade,” digo. “É para lá que os outros foram.”
“E quanto à Sinceridade?” meu irmão pergunta. “O que você acha que eles farão?”
Eu não sei como a Sinceridade vai reagir ao ataque. Eles não vão ficar do lado da Erudição—nunca fariam algo tão dissimulado. Mas, da mesma forma, não é provável que eles lutem contra a Erudição.
Ficamos parados próximos aos trilhos por alguns minutos antes que o trem venha. Eventualmente Tobias me segurou, uma vez que eu estava muito cansada, eu apoio minha cabeça em seu ombro, respirando profundamente contra sua pele. Desde que ele me salvou do ataque, associei seu cheiro a segurança, então enquanto eu me concentro nisso, me sinto segura.
O trem vira e eu vejo a cidade atrás de nós. Ela vai ficando cada vez menor até que vemos onde os trilhos terminam, as florestas e campos que eu vi pela última vez quando era muito nova para apreciá-los. A gentileza da Amizade irá nos confortar por um tempo, mas não poderemos ficar lá para sempre. Logo a Erudição e os líderes corruptos da Destemor irão procurar por nós e precisaremos fugir.
Tobias me puxa para perto dele. Viramos nossos joelhos e cabeças para ficarmos juntos em um quarto que nós mesmos fazemos, incapazes de ver aqueles que nos causaram problemas, nossas respirações se misturando enquanto inspiramos e expiramos.
“Meus pais,” eu digo. “Eles morreram hoje.”
Mesmo dizendo isso, mesmo sabendo que isso é verdade, não sinto como se fosse.
“Eles morreram por mim,” digo. Isso parece importante.
“Eles amavam você,” ele responde. “Para eles não existia uma forma melhor de provar isso.”
Eu concordo, e meus olhos acompanham as linhas de seu rosto.
“Você quase morreu hoje,” ele diz. “Eu quase atirei em você. Por que você não atirou em mim, Tris?”
“Eu não poderia fazer isso,” digo. “Teria sido como atirar em mim mesma.”
Ele parece pesaroso e se inclina para perto de mim, assim seus lábios roçam os meus quando ele fala.
“Eu tenho algo para te dizer.”
Corro meus dedos pelos tendões de sua mão e olho para ele.
“Eu posso estar apaixonado por você,” ele sorri um pouco. “Entretanto, estou esperando até ter certeza para te contar.”
“Isso é muito sensato da sua parte,” eu digo sorrindo também. “Nós deveríamos encontrar um papel para você poder fazer uma lista, ou um gráfico ou alguma coisa do tipo.”
Sinto sua risada contra meu corpo, seu nariz deslizando pela minha mandíbula, seus lábios pressionando contra minha orelha.
“Talvez eu já tenha certeza,” ele diz. “E eu só não queira assustar você.”
Eu sorrio um pouco. “Você deveria me conhecer melhor.”
“Tudo bem,” ele diz. “Então eu amo você.”
Eu o beijo enquanto o trem se dirige para terras escuras e incertas. Eu o beijo por todo o tempo que eu quero, por mais do que eu deveria, considerando que meu irmão estava sentado alguns centímetros longe de mim.
Alcanço o meu bolso e tiro o disco rígido que contém os dados da simulação. O giro nas mãos, deixando que ele reflita a luz fraca do sol. Os olhos de Marcus se agarram avidamente ao movimento. Não é seguro, eu penso. Não completamente.
Eu aninho o disco rígido no meu peito, apoio minha cabeça no ombro de Tobias e tento dormir.
Abnegação e Destemor estão destruídas, seus membros dispersos. Nós somos como as pessoas sem facção agora. Eu não sei como a vida será daqui para frente, sem facção— parece algo solto, como uma folha separada de uma árvore que lhe dava sustentação. Nós somos criaturas perdidas, nós deixamos tudo para trás. Não temos casa, não temos um caminho certo pelo qual seguir. Eu não sou mais Tris, a altruísta, ou Tris, a corajosa.
Eu acho que agora, devo me tornar mais do que ambos.